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terça-feira, novembro 18

NEVE

"O Verão acabou. O Inverno vai começar. (Ok, ainda não vai começar, mas faz de conta que sim, a bem deste comentário.) Com o frio, milhares de portugueses rumam aos picos da Europa em direcção à “neve” para praticarem desportos de Inverno – ou, como diz quem vive na “neve”, para se locomoverem.
Afinal, o que é que move o esquiador português? (além da força exercida sobre duas tabuinhas lisas, numa inclinação acentuada.) Mais do que uma semaninha de diversão ao ar livre, acho que, subconscientemente, o português vai à “neve” por uma questão de estatuto social. Não, não é para se identificar com os socialmente superiores. Pelo contrário. Não é o desejo de ser rico que o move, é o medo de ser pobre. Senão, vejamos.
Um português vai à neve e paga bem para: acordar todos os dias às 8 da manhã, viver num T0 com kitchenette, ir às compras e achar que é tudo caro, sofrer ao frio e à chuva enquanto enfrenta bichas sucessivas para apanhar dois ou três transportes diferentes – sempre lotados – até ao destino final. Ou seja, um português de classe média, média-alta, paga mais de cem contos por semana para experimentar viver como um português de classe baixa.
Quando volta, não é com sobranceria que anuncia a toda a gente que esteve na “neve”. É com compaixão. No fundo, o português vai à “neve” para se poder lembrar, durante o resto do ano, da sorte que tem. Aquilo que para os invejosos é um sinal de exibicionismo é, na realidade, um banho voluntário de humildade que se toma uma vez por ano. E isso é um asseio bonito."

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